quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Português do Brasil é um dialeto?


O Português do Brasil é um dialeto?


Segundo Raphael Bluteau, autor do primeiro dicionário da Língua Portuguesa (1712), dialeto é o "modo de falar próprio e particular de uma língua nas diferentes regiões do mesmo reino: o que consiste no acento ou na pronunciação em certas palavras, no modo de declinar e conjugar".
A partir dessa antiga definição, o Português do Brasil ainda hoje é caracterizado pelos gramáticos como um dialeto brasileiro. A Língua Portuguesa que chegou ao Brasil em 1500 foi aos poucos se impondo e se espalhando pelo território. No século XVIII, deixou de acompanhar as mudanças que ocorriam na língua na metrópole. Além disso, sofreu as influências indígena e africana e, mais tarde, de outras línguas europeias, trazidas pelos imigrantes. Isso explica a existência de falares tão distintos como os do Nordeste ou do Sul, que não chegam a constituir um subdialeto. Pode-se dizer que o Brasil, apesar de seu imenso território, mantém uma admirável unidade linguística.


A Língua Portuguesa no Brasil

Até o fim do século XVII, apenas uma em três pessoas falava Português no Brasil. Apesar de seu prestígio, essa língua não conseguiu se impor de imediato à língua geral dos índios, o tupi. Isso se dava porque os portugueses que aqui chegavam casavam-se com índias e deixavam a elas a tarefa de ensinar o idioma aos filhos. Além disso, empenhados em catequizar os nativos, os jesuítas procuravam comunicar-se com eles em tupi, chegando a aprender sua língua e a escrever sua gramática. As bandeiras paulistas também foram um importante fator de propagação do tupi. Delas, sempre faziam parte intérpretes índios que tinham na língua geral, o abanheém (língua de gente), seu instrumento de comunicação. Por essa razão, mesmo as áreas não ocupadas pelos tupis ganharam nomes nessa língua. Depois de sucessivas ordens da metrópole para que se ensinasse a língua portuguesa aos índios e após a expulsão dos jesuítas do Brasil, o português foi se fortalecendo até se tornar nosso idioma oficial.

As línguas indígenas no Brasil

Estima-se entre 120 e 150 o número de línguas indígenas faladas hoje no Brasil. Durante o período colonial, a língua mais importante era o Tupi-guarani, que apresentava duas variantes – o Tupi antigo e o Tupinambá – faladas na região que ia do atual Estado de São Paulo ao Estado do Maranhão.


A herança tupi
O Português recebeu um grande número de palavras do Tupi:
• Flora: abacaxi, capim, cipó, ipê, jabuticaba, mandacaru, maracujá, pitanga; 
• Fauna: arara, capivara, cutia, jacaré, jiboia, lambari, sabiá, tamanduá, urubu; 
• Lugares (topônimos): Aracaju, Botucatu, Carapicuíba, Guaratinguetá, Guarujá, Guanabara, Itu, Tietê, Ubatuba; 
• Nomes de pessoas: Araci, Iracema, Jaci, Jurandir, Jurema, Maíra, Moema, Tami, Tainá, Ubiratã, Ubirajara.


De São Paulo, os bandeirantes e seus guias indígenas levaram o Tupi a grandes extensões do território

Diferenças entre o Português do Brasil e o de Portugal

Há muitas diferenças entre as línguas faladas no Brasil e em Portugal:

 Vocabulário: as diferenças devem-se principalmente à contribuição que nos deram as línguas indígenas e africanas. Além disso, muitas palavras de uso cotidiano em Portugal são desconhecidas ou raramente usadas no Brasil: 'montra (vitrine), peúgas (meias de homem), retrete (latrina), esquentador (aquecedor). 



 Fonética: as diferenças são profundas. De modo geral, a pronúncia em Portugal é mais rápida e seca: Al'manha (Alemanha), esp'rança (esperança), p'reira (pereira). Outras distinções: o hábito, em Portugal, de alongar certas vogais, transformando-as em ditongo – senhoire (senhor), fazeire (fazer) – ou de pronunciar como ai, o ditongo ei – baijo (beijo).



• Morfologia: as diferenças nesse caso são de:
- Formas verbais: como estou a fazer, ando a fazer (Portugal); estou fazendo (Brasil).
- Uso do sufixo -ito (a): rapazito, boquita (comum em Portugal). 

- Conjugação em 2ª pessoa (tu e vós) – no Brasil restrita a algumas regiões que, em geral, empregam o tu conjugando o verbo na 3ª pessoa: tu vai, tu foi. 



• Sintaxe: há muitas diferenças na linguagem coloquial entre o Português do Brasil e o de Portugal:

- Preferência pela próclise do pronome no Brasil: me disseram, te confesso. Em Portugal, prefere-se a ênclise: disseram-me, confesso-te, além de usar normalmente a mesóclise: dir-me-ia – raríssima entre nós, usada somente literariamente. 
- Uso de pronomes retos como objetos diretos: eu vi ele, esperei ela (comum no Brasil); eu o vi, esperei-o (em Portugal). 

- Uso da preposição em no Brasil, no lugar de a (usada em Portugal): cheguei em Parati, fui no cinema (o no substitui ao). 



• Semântica: nem sempre as palavras portuguesas têm aqui o mesmo significado. Às vezes ganham um sentido diferente, em outras mantêm o sentido abandonado em Portugal: moço = jovem (no Brasil) e empregado (em Portugal); comboio = série de carros (no Brasil), trem (Portugal).




A herança africana


Os africanos trazidos ao Brasil como escravos, entre os séculos XVI e XIX, pertenciam a diversas tribos, cada uma delas com costumes e línguas diferentes. Entre essas destacavam-se o nagô ou iorubá, falado principalmente na Bahia, e o quimbundo, falado na região norte do país, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais. As línguas africanas também influenciaram o Português do Brasil, nomeando:

• Divindades e rituais: Iansã, Iemanjá, orixá, candomblé, Zumbi. 

• Danças e músicas: batuque, maracatu, samba, agogô, berimbau.
• Alimentos e bebidas: acarajé, angu, vatapá, cachaça, inhame, maxixe, quiabo.
• Escravidão: senzala, mocambo, quilombo, mucama. 

Além disso, muitos adjetivos e verbos do português têm suas origens nas línguas africanas: banguela, caçula, macambúzio, batucar, cochilar, xingar. 


Fonte: usinadasletras.com.br

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