Uma das pioneiras do gênero romanesco no Brasil e escrita para ser publicada em partes (num jornal), a obra retrata com bom humor a sociedade carioca do início do século passado.
Memórias de um Sargento de Milícias é uma das obras mais singulares da Literatura brasileira. Escrita nos primórdios do gênero romanesco entre nós, surge logo após as experiências de Teixeira e Sousa – O Filho do Pescador (1843) –, e Joaquim Manuel de Macedo – A Moreninha (1844). Isso explica alguns traços primitivos de seu estilo e de sua estrutura. Trata-se de um romance de humor popular, baseado nas aventuras de tipos humanos bem característicos da sociedade carioca do começo do século XIX. O humor explorado por Manuel Antônio de Almeida é o mesmo das peças de Martins Pena, o maior dramaturgo do Romantismo brasileiro, autor de O Noviço – encenada em 1845, sete anos antes da publicação de Memórias.
Uma narrativa de costumes
Destinada às páginas do jornal Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, Memórias tem capítulos unitários, quase todos contendo um episódio completo. Em seu conjunto, a obra reconstitui a vida de Leonardo Pataca e de seu filho Leonardo, em meio a um vivo retrato das camadas baixas do Rio de Janeiro de D. João VI. Além de concentrar-se nas proezas (sobretudo amorosas) desses dois arquétipos da malandragem carioca, o romance dá muita atenção às festas, aos encontros, às instituições e às profissões populares da cidade, cujas ruas são descritas com a animação de uma verdadeira narrativa de costumes. Trata-se, enfim, de um romance muito agitado e festivo em que não há praticamente nenhuma página sem um incidente ou surpresa espantosa.
Uma narrativa de costumes
Destinada às páginas do jornal Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, Memórias tem capítulos unitários, quase todos contendo um episódio completo. Em seu conjunto, a obra reconstitui a vida de Leonardo Pataca e de seu filho Leonardo, em meio a um vivo retrato das camadas baixas do Rio de Janeiro de D. João VI. Além de concentrar-se nas proezas (sobretudo amorosas) desses dois arquétipos da malandragem carioca, o romance dá muita atenção às festas, aos encontros, às instituições e às profissões populares da cidade, cujas ruas são descritas com a animação de uma verdadeira narrativa de costumes. Trata-se, enfim, de um romance muito agitado e festivo em que não há praticamente nenhuma página sem um incidente ou surpresa espantosa.
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Romantismo excêntrico
No final do século XIX, o crítico José Veríssimo interpretou Memórias de um Sargento de Milícias como um romance pré-realista, em virtude de sua inclinação para o retrato social. Depois, Mário de Andrade aproximou-o do romance picaresco espanhol, principalmente de autores como Lazarillo de Tormes ou Hurtado de Mendonza. Mais recentemente, Antonio Candido demonstrou que se trata de um romance propriamente romântico com a particularidade de apresentar uma certa excentricidade em relação à média das obras do Romantismo brasileiro.
Uma obra original
Assim como Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, é excêntrico pelo excesso de imaginação e fantasia, e Iracema, de José de Alencar, pelo excesso de recursos poéticos, Memórias de um Sargento de Milícias distancia-se da média da sensibilidade romântica pelas seguintes razões:
• A história não envolve personagens da classe dominante, mas sim, pessoas de baixa renda.
• O personagem central não é herói nem vilão. Trata-se de um anti-herói malandro, de natureza picaresca, muito próximo do pícaro espanhol.
• As cenas não são idealizadas, mas reais, apresentando aspectos pouco poéticos da existência.
• Ausência de moralismo e recusa da ideia de que as ações humanas se dividem necessariamente entre boas e más.
• Troca do sentimentalismo pelo humorismo, do estilo elevado e poético pelo estilo tosco e direto, sem torneios embelezadores.
• O estilo é oral e descontraído, diretamente derivado da conversa ou do estilo jornalístico da época.
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Mário de Andrade buscou inspiração no protagonista Leonardo para compor o seuMacunaíma em 1928. Memórias tem também conexões com Serafim Ponte Grande (1928-1933), de Oswald de Andrade. No folclore, vincula-se à tradição das diabruras de Pedro Malazarte.
Descrições e caricaturas
As descrições da obra apontam basicamente para duas direções: ora para um retrato vivo da indumentária, dos costumes, dos logradouros públicos e das instituições do velho Rio de Janeiro; ora para o exagero dos traços físicos das pessoas e das situações. As caricaturas, tão abundantes quanto expressivas em Memórias de um Sargento de Milícias, são um excelente exemplo desses exageros. Elas tornam o estilo do romance um tanto popular, mas nem por isso menos humorístico. Há, também, uma infinidade de alusões irônicas e passagens insinuantes, embora elas não apresentem a fineza encontrada, por exemplo, nas obras de outro grande escritor: Machado de Assis.
Técnica do enredo e personagens
Memórias de um Sargento de Milícias não é um romance escrito em primeira pessoa, como faz supor o título. O foco narrativo é na terceira pessoa. A palavra "memórias", nesse caso, equivale a apontamento histórico ou relato ditado pela lembrança. Como foi escrito no Segundo Reinado tratando do Rio de Janeiro da época de D. João VI, é evidente que o romance possui algumas propriedades de romance histórico, na medida em que se detém na captação de cenas e costumes do passado. Nesse sentido é que se deve entender o termo "memórias" do título.
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Técnica do enredo e personagens
Memórias de um Sargento de Milícias não é um romance escrito em primeira pessoa, como faz supor o título. O foco narrativo é na terceira pessoa. A palavra "memórias", nesse caso, equivale a apontamento histórico ou relato ditado pela lembrança. Como foi escrito no Segundo Reinado tratando do Rio de Janeiro da época de D. João VI, é evidente que o romance possui algumas propriedades de romance histórico, na medida em que se detém na captação de cenas e costumes do passado. Nesse sentido é que se deve entender o termo "memórias" do título.
Trata-se também de um romance de costumes com propriedades picarescas, porque sua ação é episódica e parcelada. A tênue história central – encontro, separação e união dos protagonistas – funciona como pretexto para a apresentação das diabruras e dos apertos em que se metem os dois Leonardos. A ação incorpora a variedade, a energia e o curto fôlego das travessuras da infância, da juventude desajustada (filho) e da senilidade precoce (pai).
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Personagens como tipo sociais
As aventuras dos protagonistas envolvem os mais variados tipos humanos (a Cigana, o Mestre de Cerimônias, o Mestre de Reza, Chico Juca, Teotônio etc.), os quais participam de cenas isoladas e somem, sem maiores consequências para a trama central. Assim é o romance picaresco, expressão derivada do termo pícaro, espécie de personagem marginal que vive ao sabor do acaso.
Por ser um romance de costumes, Memórias recompõe hábitos, fornecendo um animado retrato de época. Por essa razão, o autor caracteriza os personagens como parte de um grupo, esquecendo a individualidade psicológica.
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Assim, vários personagens não possuem nome no livro, mas são designados pela profissão ou condição social que possuem: o Barbeiro, a Parteira, a Cigana, o Fidalgo, o Mestre de Cerimônias, o Toma-Largura etc. Quando um personagem desses fala ou age, tem-se a impressão de um grande movimento, pois nele vislumbra-se todo o grupo social a que pertence. Esta é uma das razões por que Memórias é considerado um dos livros mais vivos e dinâmicos da Literatura brasileira.
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