domingo, 23 de dezembro de 2012

Redação - O que é narrar?


Narrar é relatar fatos e acontecimentos vistos, ouvidos, lidos ou imaginados em um momento e local determinados. Todos os dias acontecem situações interessantes, divertidas ou desagradáveis que podemos relatar a nossos amigos ou à família. Assim fazemos uma narração. Podemos, às vezes, narrar por escrito. Veja:

Elementos da narração literária


A narrativa literária, também chamada de ficção, é aquela elaborada por um escritor que recria ou inventa uma realidade. Toda narração pressupõe um narrador, que é quem conta a história, e uma trama ou enredo, que é a sequência dos fatos relatados segundo uma ordem, cronológica ou não. O tema é a matéria-prima do enredo. Qualquer tema pode originar uma excelente narrativa, dependendo do escritor. Mas é importante saber que relatar fatos não basta para prender a atenção do leitor. É preciso que do enredo faça parte um conflito, uma complicação, ou seja, um elemento que desvie os fatos de seu percurso habitual, previsível.

Nessa narrativa, as personagens podem ser reais ou fictícias e até mesmo animais ou seres inanimados, aos quais atribuímos qualidades humanas. Às personagens principais dá-se o nome de protagonistas. 

Diferenças entre descrição e narração


O ambiente em que se movem as personagens é retratado pela descrição. Às vezes, o que cativa e torna interessante a narração é não tanto a trama, quanto a qualidade descritiva do cenário – a atmosfera de uma sala de jogos, o mistério da cena do crime. Ambas as formas de expressão se alternam e se complementam num relato. A descrição situa as coisas no espaço, como se fosse um quadro. Destaca os elementos plásticos tais como existem ou como são imaginados. Utiliza-se de adjetivos, comparações, metáforas. O tempo verbal mais frequente na descrição é o pretérito imperfeito. 

"Apesar de ser pouco mais de duas horas, o crepúsculo reinava nas profundas e sombrias abóbadas de verdura: a luz, coando entre a espessa folhagem, se decompunha inteiramente; nem uma réstia de sol penetrava nesse templo da criação, ao qual serviam de colunas os troncos seculares dos acaris e araribás.

O silêncio da noite, com os seus rumores vagos e indecisos e os seus ecos amortecidos, dormia no fundo dessa solidão, e era apenas interrompido um momento pelo passo dos animais, que faziam estalar as folhas secas..."


(O Guarani, de José de Alencar)


A narração situa as coisas no tempo, o importante é o que acontece. As palavras que predominam na narrativa são os verbos que expressam ação e os pronomes pessoais. Os tempos verbais mais frequentes são o pretérito perfeito e o mais-que-perfeito; também pode aparecer o presente histórico, que, atualizando os fatos, tem valor de passado.

Foco narrativo


Foco narrativo é o ponto de vista do narrador. Basicamente há dois focos distintos – do narrador em terceira e em primeira pessoa. 


 Narrador em terceira pessoa: conta os fatos sem participar da ação. Nesse caso, ele pode ser:


Narrador onisciente: aquele que tudo sabe, que conhece o interior das personagens, pode explicar seu passado e adiantar o que farão no futuro.

Narrador-observador: aquele que se limita a contar o que pode ser testemunhado de fora. 

 Narrador em primeira pessoa: o narrador é uma personagem que conta a própria história ou a de outrem. Esta forma propicia a autoanálise e a reflexão do narrador. É o recurso básico para o monólogo interior, que ganhou destaque na literatura do século XX e é indispensável na elaboração das memórias. 

Formas da narrativa

Além dos romances, das novelas e dos contos, há outras formas de narrativa:

• Crônica: narrativa curta que geralmente tem como ponto de partida um fato real comentado pelo autor, muitas vezes de maneira lírica ou bem-humorada. Nas últimas décadas, no Brasil, muitos escritores notabilizaram-se por suas crônicas: Rubem Braga, Fernando Sabino e Luís Fernando Veríssimo, entre outros.

Parábola: narrativa curta e alegórica, isto é, que simboliza outra realidade. Os ensinamentos de Cristo foram transmitidos por meio de parábolas.

Saga: narrativa extensa que conta a história de uma família importante no contexto de um povo. Exemplo: O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo.

Lendas, contos de fada, mitos: narrativas que participam da cultura coletiva, impregnadas de seres e acontecimentos sobre-humanos. Essas narrativas fazem parte do patrimônio da literatura oral, como os contos de fada – Chapeuzinho Vermelho,RapunzelCinderelaA Bela e a Fera – e os mitos de Prometeu e de Perséfone.

Apólogo: narrativa curta, de fundo moral, geralmente protagonizada por seres inanimados. 


"Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

– Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
– Deixe-me, senhora.
– Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

– Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. (...)"
(Machado de Assis)

Fonte: http://terramagazine.terra.com.br

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