Único livro publicado em vida por Castro Alves, a obra reflete sua percepção sobre o mundo e a época em que vive. É como se ele quisesse deixar um inventário com todas as possibilidades de sua poética.
Lançado no final de 1870, poucos meses antes da morte do poeta, Espumas Flutuantes reúne parte importante de sua produção lírica. São poesias de caráter épico-social, de amor, textos descritivos e traduções que revelam suas influências – entre elas, a poesia social de Victor Hugo, o romantismo heroico de Lord Byron e o ultrarromantismo de Junqueira Freire e de Álvares de Azevedo.
Apenas os poemas abolicionistas, pelos quais Castro Alves se ornou tão conhecido, não fazem parte desta obra. Estavam destinados ao volume Os Escravos, que ele vinha organizando e não chegou a publicar na íntegra antes de morrer.
O social como tema da poesia
Castro Alves é o maior representante da última geração romântica da Literatura brasileira. Diferentemente dos ultrarromânticos que o precederam, projeta o drama interior do escritor (o eu) e sua intensa contradição psicológica sobre o mundo.
O social como tema da poesia
Castro Alves é o maior representante da última geração romântica da Literatura brasileira. Diferentemente dos ultrarromânticos que o precederam, projeta o drama interior do escritor (o eu) e sua intensa contradição psicológica sobre o mundo.
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É um outro modo de representar o conflito entre o Bem e o Mal, tão prezado pelos românticos. Na obra de Castro Alves, a poética identifica-se profundamente com o ritmo da vida social, expressando a busca da humanidade por redenção, justiça e liberdade. E o poeta tem um papel messiânico e afinado com o seu momento histórico.
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Estilo e linguagem grandiosos
Nos poemas de caráter político-social de Castro Alves, como "O Livro e a América", "Ode ao Dous de Julho" e "Pedro Ivo", a poesia é superada pelo discurso político inflamado.
Para atingir o alvo e persuadir o leitor, o poeta abusa de antíteses e hipérboles e apresenta uma sucessão vertiginosa de metáforas que procuram traduzir a mesma ideia. E nada é gratuito. Sua poesia é feita para ser declamada e o exagero das imagens é intencional, deliberado. Tem a intenção de reforçar a ideia do poema. Os versos devem ressoar e traduzir o constante movimento de forças antagônicas, como em "Ode ao Dous de Julho":
Para atingir o alvo e persuadir o leitor, o poeta abusa de antíteses e hipérboles e apresenta uma sucessão vertiginosa de metáforas que procuram traduzir a mesma ideia. E nada é gratuito. Sua poesia é feita para ser declamada e o exagero das imagens é intencional, deliberado. Tem a intenção de reforçar a ideia do poema. Os versos devem ressoar e traduzir o constante movimento de forças antagônicas, como em "Ode ao Dous de Julho":
"Era no dous de julho. A pugna imensa Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá [...]Era o porvir – em frente do passado, A Liberdade – em frente à Escravidão, Era a luta das águias – e do abutre, A revolta do pulso – contra os ferros, O pugilato da razão – com os erros, O duelo da treva – e do clarão!..." | ||
→ As características da poesia social de Castro Alves são:
• Discurso retórico e declamativo.
• Uso exagerado de hipérboles e antíteses.
• Acúmulo sucessivo de metáforas.
• Um movimento que procura demonstrar concretamente a luta da humanidade em busca da liberdade.
• Enorme capacidade de comunicação.
A poesia, portanto, perde terreno para a propaganda política. Pragmático, o poeta usa a poesia para levar o leitor à ação, para transformar e não só como uma forma de prazer. Trata-se de uma arte engajada no marketing das ideias sociais e políticas.
Na lírica amorosa, musas de carne e osso
Castro Alves transformou a poesia lírico-amorosa do Romantismo, mudando a concepção temática do amor. Seus poemas, muitas vezes de fundo autobiográfico, destacam-se pelo vigor da paixão e pela intensidade na expressão do sentimento. Em seus versos, a experiência amorosa realiza-se também no plano físico, enquanto desejo e envolvimento sentimental-carnal.
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O poema "O 'Adeus' de Teresa" revela essa amada, que passa a noite com o eu-lírico:
E é bem real, como se percebe no poema "Adormecida":
"Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente." | ||
Um amor e muita sensualidade
A paixão concreta e ardente pela atriz portuguesa Eugênia Câmara influenciou sua visão poética do amor.
Essa visão pode ser classificada não só como sentimental, mas também como sensual, entendida como uma poesia que apela aos sentidos (sensorial).
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"Teu seio é vaga dourada Ao tíbio clarão da lua, Que, ao murmúrio das volúpias, Arqueja, palpita nua; Como é doce, em pensamento, Do teu colo no languor Vogar, naufragar, perder-se O Gondoleiro do amor!?" | ||
Inspirado por Eugênia Câmara, Castro Alves escreveu seus mais belos poemas de esperança, euforia, desespero e saudade, como "É Tarde". Pela primeira vez, a poesia é motivada pela paixão e pelo envolvimento amoroso, e a dor não se traduz em lamentos e queixas. Seu sentimentalismo amoroso é maduro, adulto e se realiza em sua plenitude carnal e emocional.
Castro Alves transforma a realidade imediata de sua experiência amorosa em criação poética e utiliza metáforas (imagens) ligadas à natureza para traduzir esse movimento de união entre vida e arte. Essa ideia se revela claramente no poema "Aves de Arribação":
Castro Alves transforma a realidade imediata de sua experiência amorosa em criação poética e utiliza metáforas (imagens) ligadas à natureza para traduzir esse movimento de união entre vida e arte. Essa ideia se revela claramente no poema "Aves de Arribação":
"É noite! Treme a lâmpada medrosa Velando a longa noite do poeta... Além, sob as cortinas transparentes, Ela dorme, formosa Julieta! Entram pela janela quase aberta Da meia-noite os preguiçosos ventos E a lua beija o seio alvinitente – Flor que abrira das noites aos relentos. O Poeta trabalha!... A fronte pálida Guarda talvez fatídica tristeza... Que importa? A inspiração lhe acende o verso Tendo por musa – o amor e a natureza! E como o cactus desabrocha a medo Das noites tropicais na mansa calma, A estrofe entreabre a pétala mimosa Perfumada da essência de sua alma." | ||
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Vida e obra - O poeta em ação |
Um brilho fugaz, mas intenso
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847, na fazenda Cabaceiras, em Curralinho, hoje Castro Alves, na Bahia. Cursou Humanidades no Ginásio Baiano.
Em 1862, mudou-se para o Recife, com o objetivo de ingressar na Faculdade de Direito.
Entusiasmado com as ideias liberais e abolicionistas dos jovens acadêmicos da época, dedica-se à poesia e ao desenho, frequenta os teatros e começa a publicar seus versos na imprensa.
Sem conseguir entrar na faculdade, passa o ano de 1863 estudando Geometria (que o havia reprovado) e publica seus primeiros versos abolicionistas – "A Canção do Africano" – no jornal acadêmico A Primavera. Apresenta os primeiros sinais de tuberculose. Em 1864, entra na Faculdade de Direito, onde se destaca mais pelos poemas recitados nos teatros e comícios estudantis, muitas vezes de improviso, do que pelo empenho nos estudos.
Funda em 1866, com Rui Barbosa e outros colegas de curso, uma sociedade abolicionista e lança o jornal de ideias A Luz. No mesmo ano, apaixona-se por Eugênia Câmara e vai morar com ela nos arredores da cidade. Para a amada, traduz peças francesas e compõe o drama Gonzaga ou a Revolução de Minas.
Em 1867, mudam-se para Salvador, onde encenam a peça com grande sucesso. Castro Alves dedica-se a terminar Os Escravos e cria "A Cachoeira de Paulo Afonso", poema que será o epílogo do livro. Ao mesmo tempo, escreve "Sub Tegmine Fagi" e
outras poesias.
Animado pelo sucesso da peça em Salvador e disposto a terminar o curso de Direito em São Paulo, Castro Alves embarca para o Sul na companhia de Eugênia em fevereiro de 1868. De passagem pelo Rio de Janeiro, lê o seu drama e algumas poesias a José de Alencar, que depois o apresenta a Machado de Assis. Ambos ficam impressionados com seu talento. Machado o elogia publicamente no Correio Mercantil.
Em São Paulo, Castro Alves é tratado como um ídolo. Frequenta pouco a faculdade. Dedica-se a escrever poemas, como "Vozes d'África" e "Navio Negreiro", e recitá-los. Também prepara a representação do Gonzaga, por Joaquim Augusto, o maior ator brasileiro da época. A peça é encenada com sucesso em outubro.
O relacionamento com Eugênia Câmara complica-se. A atriz retorna ao palco e as brigas por ciúmes se multiplicam. Eugênia o abandona definitivamente em setembro. Angustiado e deprimido, Castro Alves pára de ler e escrever, somente passeia e vai à caça, ainda que não dispare nem um tiro.
Em 1º de novembro, sai mais uma vez para caçar no Brás, nos arredores da cidade e, ao saltar uma vala, a arma dispara e o tiro acerta-lhe o pé esquerdo. O ferimento infecciona e a tuberculose volta a se manifestar. Em 19 de maio de 1869, embarca para o Rio de Janeiro, onde, no começo de junho, seu pé é amputado, sem anestesia. A convalescença é lenta e dolorosa.
Nasce Espumas Flutuantes
Em 25 de novembro, Castro Alves embarca para a Bahia, cercado de amigos e parentes.
A conselho médico, em fevereiro de 1870, vai para Curralinho, no sertão baiano e, depois, à fazenda Santa Isabel, no Rosário do Orobó, onde termina "A Cachoeira de Paulo Afonso". A aparente melhora de saúde o faz retornar a Salvador em setembro. Em outubro, o livro Espumas Flutuantes é lançado. Muito doente, em janeiro de 1871, ainda faz versos, como "A Violeta", que dirige à cantora Agnèse Trinci Murri. Apesar dos cuidados que o cercam na capital da Bahia, sua doença se agrava.
O condoreirismo
Castro Alves foi o principal e mais popular representante do estilo romântico que predominou na poesia brasileira entre 1850 e 1870. Estilo que foi denominado "condoreiro" pelo poeta e historiador Capistrano de Abreu (1853 a 1927).
Os poetas condoreiros foram influenciados diretamente pela poesia social de Victor Hugo – o condoreirismo é o hugoanismo brasileiro.
De teor declamativo e pendor social, um de seus símbolos mais frequentes é a imagem do condor dos Andes, pássaro que representa a liberdade da América. É ela que sugeriu a Capistrano de Abreu a denominação dada ao estilo.
A forma mais típica da poesia condoreira é a décima composta de uma quadra (abab ou abcb) e uma sextilha (ddeffe) de versos heptassílabos, como aparece na poesia "O Livro e a América", de Espumas Flutuantes:
Outros poetas, como Tobias Barreto (1839-1889), José Bonifácio, o Moço (1827-1886) e Pedro de Calasãs (1837-1874) cultivaram e defenderam o condoreirismo.
Fonte: http://vestibular.uol.com.br |
amei
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