sábado, 29 de dezembro de 2012


SEJAM BEM-VINDOS!

No Blog vocês encontrarão diversos resumos e análises de obras literárias que são pedidas nos principais vestibulares do país e no ENEM. Também há um trabalho voltado à correção de redações com comentários, notas e indicações de estudo.

O espaço é voltado para alunos, educadores e pessoas que desejam divulgar o seu trabalho literário como livros, artigos, trabalhos científicos, etc. 


Prof. Claudinei Camolesi

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Meus livros


O livro "As aventuras de um agricolino" traz como personagem principal um rapaz que descobre que o ambiente influencia profundamente o comportamento das pessoas. Ao se aprofundar na história, o leitor irá constatar as mudanças de personalidade que ocorreram num tempo cronológico de três anos em que o jovem permaneceu dentro de um colégio agrícola. A personagem usará as suas memórias e as suas vivências para construir o enredo e a trama do romance. Boa leitura!

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Valor: R$ 30,00 
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Livro: "As aventuras de um agricolino"
Autor: Claudinei Camolesi
Valor: R$ 30,00
Quantidade de capítulos: 46
Número de páginas: 132
ISBN: 978-85-61175-62-7

Um breve aperitivo do que você irá encontrar nos 46 capítulos do livro "As aventuras de um agricolino"

Primeiro ano – Vida de bagaço

       Ser bagaço é chegar ao colégio agrícola e ver um mundo diferente. Um mundo novo com “amigos estranhos” que um dia se tornarão companheiros nas brincadeiras, atrapalhadas e transgressões. É viver momentos de aprendizagem, ansiedade, medo, raiva, trabalho forçado, humilhação, desafio e vingança. No entanto, o que realmente importa é que tudo isso se torna emocionante e necessário e no final o iniciante sente orgulho de pertencer à turma dos bagaços – os únicos ainda normais no colégio.

A terminologia bagaço tem outras acepções dependendo da região do país, por exemplo, eles podem ser chamados também de mobral, lacaiada, novato, calouro, lacaio, gabiru, bixo, prego, novatinho, galinha, manga, sonso, broto, bostex, frango, entre outras. Qual nome será dado aos ingressantes não tem importância, o que faz a diferença é que um colégio agrícola sem bagaços perde toda a sua graça.


         Ser o filho caçula em uma família de cinco irmãos tem as suas vantagens, sempre teremos aquilo que os outros por questão financeira ou por outro motivo qualquer não puderam ter. Devo confessar que comigo essa história não foi diferente, eu sempre desfrutei de alguns privilégios que os meus cinco irmãos mais velhos não tiveram.
Desde que eu tinha por volta de sete anos de idade, o meu pai já me contava entusiasmado as suas aventuras de garoto. As que eu mais gostava de ouvir eram as histórias mirabolantes sobre a época em que ele estudava em um colégio interno do interior do Paraná. Nessas conversas ficávamos horas e horas falando sobre as suas peraltices e as dos seus amigos no interior dos alojamentos e fora deles.
Dentre todas as histórias que eu ouvi a que mais me marcou foi quando ele com os outros alunos do terceiro ano amarraram as fechaduras de todos os apartamentos do bloco em que moravam os gabirus (era dessa maneira que meu pai chamava os alunos iniciantes) e queimaram estrume de cavalo seco debaixo das portas para fazer fumaça. Todos os gabirus que estavam presos nos apartamentos imaginaram que estava tendo um incêndio do lado de fora, foi a maior confusão. O pior é que eles não conseguiram sair a tempo para irem assistir as primeiras aulas e com isso o diretor descobriu o porquê daquele atraso.
Os “doutor” (como eram chamados os alunos veteranos) por essa armação quase foram expulsos, até o meu avô foi convocado pelo diretor para ir ao colégio responder pela indisciplina do meu pai. Era muito divertido escutar as histórias que ele contava sobre esse momento marcante da sua vida - uma vida emocionante que eu também desejava ter.
Quando finalmente chegou os meus catorze anos, nós fomos fazer a inscrição para um processo seletivo chamado Vestibulinho para que eu pudesse iniciar o meu Ensino Médio e Técnico em um colégio agrícola do Estado de São Paulo. Eu não via a hora de terminar logo o nono ano e partir de vez para essa grande aventura, o mais legal dessa nova jornada é que eu teria a companhia do meu primo Júlio que também desejava estudar nesse mesmo lugar. Sem dúvida, nós aprontaríamos muito juntos.
O final do ano chegou, eu fiz a prova e fui aprovado. Agora era só começar os preparativos para essa grande mudança. A minha expectativa era enorme, afinal eu ficaria longe dos olhos atentos de minha mãe que não me deixava fazer nada por medo de acontecer alguma coisa com o seu filhinho caçula.
Enfim a liberdade!

Capítulo 2 – A chegada

 Fiquei contente em saber que eu tinha sido aprovado no Vestibulinho e que eu iria morar “sozinho” e longe dos olhos atentos dos meus pais. Eu e o Júlio finalmente seríamos livres e poderíamos fazer tudo aquilo que desejássemos, só que no começo não foi bem isso o que aconteceu. Não foi mesmo! Mas isso não vem ao caso nessas primeiras linhas, esse é um assunto para depois.
Alguns dias antes do início das aulas, nós fomos com os nossos pais conhecer o local onde iríamos passar os próximos três anos das nossas vidas. Nós gostamos muito daquilo que vimos ao chegar ao colégio, o lugar estava quase deserto. Só encontramos alguns funcionários e o diretor que nos disseram que os alunos veteranos ainda estavam todos de férias.
Um silêncio tranquilizador reinava completamente no local. Minha mãe adorou essa calmaria, para ela o lugar seria perfeito e seguro para deixar o seu filho. Eu e o Júlio já imaginávamos a vida boa que teríamos longe das nossas famílias, estávamos ansiosos e contanto as horas para o início das aulas. Seria o tão esperado momento de nos aventurarmos em um ambiente totalmente estranho e para nós ainda inexplorado.
Finalmente o grande momento chegou. No dia dez de fevereiro, eu acordei às três horas da manhã, na verdade eu quase nem dormi naquela noite. Meu pai emprestou a caminhonete do meu tio e partimos levando tudo aquilo que iríamos precisar naqueles primeiros dias. Eu já aguardava por isso há vários anos, aquelas histórias que meu pai me contava sobre as suas aventuras no colégio do Paraná aguçou a minha curiosidade e o meu desejo de viver, assim como ele, essa experiência.
Chegamos às oito horas da manhã na entrada do colégio e o inspetor de alunos já estava no portão aguardando os novatos para alojá-los. Ele nos disse que nesse primeiro momento nós iríamos ser colocados em um bloco reservado para os alunos recém-chegados e que não nos misturaríamos com os veteranos nesse início.
Os alojamentos ficavam afastados das outras dependências do colégio, no começo nós pensávamos que isso seria bom, pois teríamos total liberdade. No entanto, “achar isso bom” foi o nosso grande erro. Em breve vocês entenderão o porquê desse nosso equívoco.
No exato momento em que começamos a caminhar rumo aos alojamentos, eu percebi que os nossos maiores pesadelos iriam começar. Ao colocar o pé dentro do colégio senti uma sensação estranha, ele já não parecia aquele lugar tranquilo que visitamos há alguns dias.
Olhares intimidadores pareciam nos dizer que algo iria acontecer a qualquer instante...
           No trajeto entre a secretaria do colégio e os alojamentos encontramos vários alunos. O inspetor nos levou ao bloco B para que nós conhecêssemos o nosso apartamento. Percebi que aquele silêncio e aquela tranquilidade de alguns dias atrás foram substituídos por alguns ruídos e cochichos vindos de todos os lados.
Conforme nós íamos andando, eu comecei a escutar vários murmúrios estranhos. No começo não entendi muito bem o que eles significavam, mas depois os sons ficaram mais nítidos: “Lá vem o meu baguinha! Aquele lá é meu! Fica esperto bagaço! ”.
Fiquei me perguntando o que seria um baguinha. A curiosidade era tanta que quase perguntei o significado ao inspetor, mas achei melhor não, afinal o meu pai estava junto e se isso fosse algo ruim poderia estragar todo o meu sonho de estudar ali. Meu pai estava tão concentrado na conversa que tinha com o funcionário sobre a parte agrícola do colégio que nem desconfiou da situação.
A partir desse momento comecei a perceber que as coisas não iriam ser tão tranquilas como eu e o Júlio pensávamos. Pode até parecer exagero essa minha comparação, mas aquela cena parecia um filme de prisão na qual os prisioneiros mais velhos ficam esperando os mais novos chegarem. Fiquei realmente assustado com aquilo, porém disfarcei como se aquelas ameaças não fossem para mim.
Entramos e olhamos o apartamento, era um lugar até certo ponto espaçoso. Tinha um quarto que cabia duas camas beliches, uma sala e um banheiro com vaso e chuveiro. O mais legal de tudo é que também havia uma parede cheia de pôsteres de mulheres nuas. Aquela visão era muito boa, contudo a alegria durou pouco, o inspetor deu a notícia que os papéis pregados nas paredes não seriam mais permitidos a partir daquele ano.
Fazer o quê? Nada é perfeito na vida! Adolescente é igual em todo lugar, adora algo que mexa com a sua “grande imaginação”.
Após esse primeiro contato com o apartamento, meu pai e o inspetor subiram juntos para buscar a caminhonete para descarregar as nossas coisas. Foi nesse instante que eu e o Júlio vimos realmente como seria as nossas vidas ali. Estávamos sozinhos na frente do ap. quando do nada surgiram alguns alunos veteranos com seus olhares estranhos e intimidadores, um deles se aproximou do Júlio e perguntou: “E daí bagaço, qual é o seu nome? ”.
Depois um pegou na minha mão, olhou direto no meu olho e disse que ele seria o meu padrinho. Eu não estava entendendo nada sobre bagaço ou padrinho, mas não demorou muito e comecei a perceber o que significava tudo aquilo.
Apesar dessa recepção inicial por parte dos veteranos não houve maiores problemas naquele dia. Meu pai chegou com as nossas coisas, descarregamos tudo rapidamente e armamos a beliche em um canto do quarto e deixamos espaço para mais uma, pois fomos avisados que iriam morar com a gente mais dois alunos iniciantes.
Durante o decorrer do dia tudo estava tranquilo, a todo o momento chegavam alunos de vários lugares. No nosso ap. foram alojados mais dois meninos do interior do Estado do Mato Grosso, o Pedro e o Lucas. Esse último não tinha mais do que um metro e quarenta de altura, até parecia o irmão mais novo de algum outro aluno, na verdade o menino não havia crescido - era um nanico. Constatei que os nossos companheiros de quarto pareciam ser serenos e espertos, a convivência durante o ano confirmaria ou não esse meu primeiro conceito sobre eles.
O fim de tarde chegou e fomos jantar, o refeitório ficava a cerca de duzentos metros dos alojamentos. Era apenas cinco e meia, foi difícil acostumar com essa rotina de comer tão cedo, na verdade aquele horário na minha casa seria o do café da tarde. Geralmente em escolas agrícolas os horários das refeições são bem estranhos.
Após o jantar, nós descemos para o nosso apartamento. Depois de uns dez minutos dois veteranos pararam em frente a nossa porta e com uma voz grave e ameaçadora disseram: “Bagaços se preparem que hoje à noite o bicho vai pegar”. Quando escutei aquilo engoli seco, minhas pernas perderam a sensibilidade, olhei para o Júlio e sussurrei: “Nossa Júlio, o que será que vai acontecer com a gente? O melhor que temos a fazer é trancar a porta e não abrir para ninguém”.
O Pedro para nos deixar ainda mais temerosos e aflitos nos contou que ouviu do seu primo, um ex-aluno do colégio, muitas histórias em que os veteranos perseguiam os calouros fazendo coisas terríveis durante todo o primeiro ano e que a primeira noite era a mais cruel de todas. Segundo ele, muitos não aguentavam e iam embora logo quando o dia amanhecia.
Só nos restava esperar para ver o que iria acontecer. Não tínhamos como correr, o jeito era enfrentar aqueles veteranos folgados e assustadores. Afinal de contas, nós estávamos em quatro no apartamento e se fosse necessário, nós iríamos nos defender a todo custo.
           O sol já estava se escondendo e o nervosismo estava tomando conta de nós. Já eram sete horas da noite e tudo ainda continuava normal. Quase todos os alunos continuavam nos corredores se conhecendo, apenas alguns estavam trancados nos seus quartos talvez para se protegerem.
No bloco C em frente ao nosso ap. estavam alojados três veteranos e um caroço (caroço é o aluno que nem é baga e nem é veterano, na verdade ele não é nada, isso na lei interna do colégio). Eles nos olhavam a todo instante como um leão esperando o momento propício para pegar a sua presa. A nossa sorte é que a cada trinta minutos o inspetor de alunos e o diretor desciam para alojar algum novato que chegava, com isso eles também aproveitavam para observar o comportamento dos alunos mais velhos.
Às oito horas, nós resolvemos fechar o ap. e não abrir mais. Nessa primeira noite nem tomamos banho de medo e de vergonha um do outro, pois ainda não estávamos à vontade e a parte do chuveiro era aberta e não tinha cortina. Ficar pelado perto de estranhos era constrangedor e algo novo principalmente para mim que sempre fui muito reservado.
O Pedro além de trancar a porta ainda colocou uma cadeira escorando o trinco, afinal todo cuidado era pouco. O Júlio foi se deitar e não se mexia na cama com medo de alguém olhar pela fresta da vidraça e ver algum movimento dentro do quarto, só o Lucas que parecia mais tranquilo. Ele estufou o peito e disse que se os veteranos viessem era para deixar que ele daria um jeito, ele nos “tranquilizou” dizendo que ninguém iria folgar onde ele estivesse. Naquele momento, eu confirmei a veracidade do ditado popular que diz: "Quanto menor o homem é, mais folgado e encrenqueiro ele também é!". Coitado do nanico do Lucas, não iria aguentar um só tapa.
O tempo foi passando e durante várias horas nós escutávamos portas batendo e alguns gritos estridentes nos corredores. Parecia que algo estava acontecendo lá fora, porém ninguém do nosso quarto criou coragem ou teve a menor curiosidade de ir ver o que poderia ser aquilo.
Por volta de meia noite, finalmente nós conseguimos pegar no sono, contudo essa paz não durou muito tempo. Lá pelas três horas da madrugada, nós escutamos um barulho estrondoso na nossa porta, parecia que tinha alguém dando socos e pontapés. O Júlio levantou e foi de pé em pé olhar pela fresta da vidraça o que estava acontecendo, ele assustado correu novamente para o quarto e disse que havia cerca de dez veteranos do lado de fora pedindo para entrar. Nesse instante não conseguíamos mais respirar direito de tanto medo. Ficamos imaginando o que iria acontecer com a gente se aqueles loucos conseguissem entrar no apartamento.
Lá de fora veio um grito ameaçador para o interior do nosso quarto: “Abram a porta bagaços do inferno! Vamos conversar um pouco, se não abrirem nós iremos derrubar. Rápido! Abram logo! ”. A porta não iria resistir por muito tempo, eram chutes, socos e gritos: “Abram a porta seus bagaços malditos, precisamos batizar vocês”.
Meu corpo estava anestesiado, o ar parecia desaparecer das minhas narinas, dava até para escutar o som das batidas dos nossos corações, não tinha como fingir que não estávamos ouvindo aquelas ameaças. Até mesmo o machão e nanico da turma ficou quietinho naquele momento, porém uma dúvida surgiu para aumentar ainda mais o nosso temor - quem iria abrir aquela única barreira que nos separavam do perigo?
Não tinha mais como prorrogar aquela situação, eu criei coragem e sem pensar abri a porta e corri novamente para o quarto junto aos outros. Nesse momento entraram cerca de dez veteranos. Alguns tinham pedaços de pau nas mãos, outros tinham cordas e alguns carregavam objetos que nem conseguimos distinguir o que eram. O medo era tanto que as nossas pernas e os nossos cérebros estavam paralisados, pensei que havia chegado o nosso fim.
Todos começaram a falar ao mesmo tempo, até que um aluno alto e gordo com uma cara de mau chamado Tijolo disse que seria o meu padrinho. Eu seria o seu bagaço e por isso ele colocaria o apelido que eu carregaria pelos próximos três anos. Ele pensou, pensou, olhou para mim e de súbito disse: “Seu apelido vai ser Coelho!”. Acho que a sua inspiração se deu por causa dos meus avantajados dentes da frente. Analisando depois o meu "novo nome", eu percebi que ele não era tão ruim assim, isso porque os dos meus colegas seriam bem piores.
O Júlio já não teve tanta sorte. O seu padrinho, um veterano conhecido como Bocão do Estado do Paraná, lhe chamou de Jerimum. Não sabíamos o que significava e nem o porquê do apelido, no outro dia fomos procurar no dicionário e descobrimos que significava simplesmente abóbora. Por que será que o Bocão complicou tanto? Não era mais fácil chamar o Júlio de abóbora em vez de Jerimum? Em questão de apelidos o pior foi o do Pedro, o seu padrinho o chamou de Troço, só porque ele era moreninho e comprido. Ele não gostou muito, até tentou negociar com o veterano, mas quase levou um violento chute. Sorte que ele foi rápido e desviou a perna direita com uma destreza incrível, uma habilidade oferecida apenas às pessoas extremamente magras como ele.
Agora só faltava o Lucas ganhar o dele. Todos nós nos recordamos da coragem incalculável do menino que disse que nenhum veterano iria folgar naquele apartamento. Nós descobrimos que esse seu discurso não passava de conversa para boi dormir. O nosso amigo corajoso não abriu a boca nem para respirar, ele já estava quase chorando. Sem o que fazer ele engoliu as lágrimas e permaneceu o tempo todo olhando para o chão. Ele teve como padrinho um veterano chamado Porcão que percebendo a aflição do garoto e seu tamanho minúsculo lhe disse: “Pelo jeito o seu pai no dia que te fez não caprichou muito na foda, então em homenagem a esse ato mal feito, o seu apelido vai ser Porrinha”.
Ele nesse momento não conseguiu mais segurar as lágrimas. Os veteranos caíram na alma do coitado, eles falaram muito na sua orelha: “Olha garoto, aqui é lugar de homem e não de mariquinha, você está parecendo uma mulherzinha assustada. Vira homem seu merda! ”. Nesse momento o Lucas se conteve, afinal era melhor ser chamado de Porrinha do que de mulherzinha.
Parecia que o pior já tinha passado, no entanto antes deles nos deixarem em "paz", eles fizeram um pente fino no local. Olharam as nossas malas e pegaram tudo o que conseguiram achar e carregar. Eles levaram o nosso creme dental, todos os sabonetes, dois desodorantes, uma sacolinha cheia de doces, ou seja, tudo aquilo que tínhamos trazido para passarmos os nossos primeiros dias no colégio. Não teve como impedi-los, qualquer reação contrária seria muito perigosa. Além de eles terem levado todos os nossos produtos, eles ainda nos ameaçaram dizendo que se abríssemos a boca para a direção, nós seríamos mortos. O Bocão (padrinho do Júlio) deixou um último recado ameaçador: “Se preparem bagaços que amanhã à noite tem o segundo tempo do batizado”.
Depois que acabou aquela tortura, nós não conseguimos mais pegar no sono. Eu não sabia se ria ou se chorava, foi uma experiência terrível esse primeiro contato com os veteranos. Mas o que mais nos assustou foram aquelas últimas palavras do Bocão, ficamos nos perguntando: o que seria pior do que aquilo que acabamos de passar na mão daqueles malditos?
Pode até parecer que não há nada pior, mas com certeza a segunda noite foi mil vezes mais terrível que a primeira.
         Amanheceu e nós estávamos exaustos, pois não dormimos o restante daquela noite, a nossa sorte é que nesses primeiros dias não haveria aula. Essa primeira semana estava reservada para conhecermos as instalações e interagirmos com os alunos mais velhos. Só que a direção não sabia ou talvez até sabia que além do período diurno, nós também recebíamos a visita dos veteranos à noite.
Interagir com os alunos mais velhos...
Isso parecia até piada, pois durante o dia perto dos funcionários eles eram muito prestativos, comunicativos, estavam sempre prontos a nos ajudar e a nos mostrar como funcionava as coisas no colégio, entretanto à noite só Deus sabe o que eles aprontavam. Vale recordar a ameaça que o Bocão nos fez antes de sair do nosso ap. de madrugada, ele conseguiu acabar completamente com o nosso sono e um restinho de tranquilidade que ainda habitava a nossa mente. Estávamos aflitos para decifrar o que ele quis dizer com o “segundo tempo do batizado”.
Uma parte desse segundo dia foi bem tranquilo. Às sete horas, nós fomos tomar o café da manhã. Depois subimos no pátio onde ficavam as salas de aula, nelas se encontravam alguns professores que se apresentaram e nos mostraram o restante do colégio. Em seguida, um por um, eles fizeram um resumo do que iríamos aprender em cada disciplina nesse primeiro ano.
Às onze horas, nós fomos almoçar. Falando em comida, eu levei um osso de costela de boi na nuca que comecei a ver estrelas, porém não consegui localizar de qual lugar ele saiu e quem jogou aquele maldito osso. Essa guerra de ossos no refeitório ainda iria piorar muito, porém isso é um assunto para outra ocasião.
Nesse dia o que ainda nos aterrorizava era o fato da noite estar se aproximando. Uma dúvida nos atormentava: será que os veteranos realmente iriam cumprir a ameaça feita de madrugada? Isso não cheirava nada bem. Se aquele primeiro contato noturno já foi traumatizante, imaginem agora que até apelidos já tínhamos ganhado.
Durante a tarde, nós fomos visitar os outros calouros e todos tinham passado pelo mesmo pesadelo e, assim como nós, tinham recebido o mesmo recado de que ao anoitecer todos os bagaços se reuniriam para que os veteranos finalizassem o batizado. Foi nesse momento que um aluno da cidade de Sorocaba, o Zóio, deu uma ideia até certo ponto interessante e que poderia nos salvar: “A gente podia depois do jantar descer para o fundo da horta que é bem afastada do resto do colégio e ficarmos lá até a noite, pois só Deus sabe o que acontecerá se os veteranos nos pegarem”.
Achamos essa ideia muito boa. Pode ser que eles - os veteranos – talvez imaginassem que nós tivemos ido à cidade ou a outro lugar qualquer. Depois, dez ou onze horas, nós voltaríamos escondidos e trancaríamos os apartamentos. Com certeza, os folgados não seriam loucos de derrubar a porta, afinal isso poderia causar problemas para eles junto a direção do colégio. Dessa vez, nós fizemos uma votação e decidimos que não iríamos abrir a porta do ap. por nada nesse mundo.
Foi exatamente isso que fizemos...
Jantamos calmamente, esperando todos os demais alunos terminarem de comer e irem para os seus quartos. Quando vimos que ninguém mais poderia nos ver, nós descemos com o prato em meio ao milharal que cercava grande parte do colégio e fomos direto para o local combinado. Na horta jamais os veteranos iriam nos procurar.
Estávamos em oito nessa fuga desesperada: eu, o Júlio (Jerimum), o Pedro (Troço), o Lucas (Porrinha) e outros novatos que na verdade eu ainda não sabia os seus nomes, isso porque eles já se apresentaram com os apelidos que herdaram na noite passada. Eram eles: o Zóio, o Mulinha, o Palito e o Bodinho. Eu só fui descobrir os seus verdadeiros nomes uma semana depois na sala de aula.
O tempo foi passando e só conseguíamos escutar alguns gritos e barulhos de portas vindos da direção dos apartamentos. O barulho se intensificou, por segurança nós resolvemos ficar até a meia noite escondidos. Estava um frio terrível naquele lugar, isso porque ao lado da horta existia uma mina d’água. Nós não iríamos resistir por muito tempo, pois já estávamos quase congelando e morrendo de fome e de cansaço.
Depois que percebemos que tudo já estava mais tranquilo, nós resolvemos voltar para os nossos quartos, porém com extremo cuidado para não sermos descobertos.
Já era quase meia noite e meia. Quando nós íamos finalmente abrir o ap., surgiram veteranos de todos os lados, na verdade eles estavam todos escondidos em um quarto vazio esperando o nosso retorno. Com uma brutalidade sem tamanho eles nos agarraram e nos jogaram numa espécie de lama misturada com algo estranho, parecia estrume de porco e urina. O cheiro era insuportável.
O pior ainda iria acontecer...
Depois que eles nos deixaram completamente imundos, nos obrigaram a tirar as roupas e a ficarmos apenas de cueca. Foi uma humilhação total, tivemos que passar por um corredor de veteranos e de caroços no qual levamos diversos tapas vindos de todos os lados. Era bobagem reagir, pois eles estavam enlouquecidos. Também era ridículo chorar porque iríamos ser avacalhados como o Lucas (Porrinha) foi na noite anterior. Não tínhamos outra coisa a fazer a não ser ficarmos quietos e aguentar aquela humilhação. Foi uma cena horrível, sete garotos só com as roupas de baixo e um completamente pelado porque ele não estava usando cueca naquele dia. Todos cheios de lama e cheirando muito mal.
Ficamos cerca de trinta minutos sendo massacrados por aqueles malditos alunos. Depois que eles finalmente se cansaram de nos humilhar, eles nos mandaram aos empurrões e ao som de gritos que nos vestíssemos e voltássemos para os nossos quartos. O Tijolo com um ar irônico ainda nos disse: “Seus bagaços idiotas, vocês pensaram que iam nos enganar se escondendo na horta... Se vocês tivessem vindo junto com os outros, as coisas seriam bem mais fáceis para vocês. Mas não! Preferiram ter um tratamento especial”. Fiquei encucado com aquelas palavras, como que eles sabiam que nós estávamos escondidos na horta? Isso era muito estranho.
Voltamos para o ap. e tomamos um banho para tirar aquele cheiro horrível. Diferentemente do primeiro dia, nós já não tínhamos mais vergonha um do outro. Tomei o meu banho já completamente pelado, pois nada era pior do que ficar apenas de cueca perto de cinquenta alunos (entre bagaços, caroços e veteranos) que assistiram toda aquela terrível cena.
Algo que me chamava a atenção era o fato de não ter um vigia para ver tal absurdo. No entanto, nós descobrimos alguns dias depois o porquê da sua ausência - ele não queria se envolver, ele tinha medo dos alunos mais velhos. Penso que por causa do ocorrido naquela noite, ao amanhecer nós tivemos as nossas primeiras baixas.

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Tiragem limitada.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Correção de redação online





Nós recebemos as redações por e-mail, corrigimos, comentamos os pontos de destaque, damos orientações para a melhoria de seu texto e as devolvemos também por e-mail. 
O custo é de R$ 20,00  por correção - redações com 30 linhas (em média). 
E-mail para envio dos textos e pagamento: 
prof.claudinei_pedagogo@yahoo.com.br 

Obs.: As redações devem ser enviadas no formato Word (doc). Realize o pagamento por PIX, entre em contato. Nós as devolveremos em 5 dias úteis. Envie sempre uma de cada vez, espere a chegada da primeira redação antes de enviar a segunda para que haja progresso em seu trabalhoNão se esqueça de enviar a proposta que você escolheu junto com a sua redação. Fazemos a correção personalizada e orientamos sobre as fragilidades. 

Correção de redações com média 30 linhas

R$ 20,00 (por redação)

Qualquer dúvida e pagamento entre em contato!

Pagamento por PIX
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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Português do Brasil é um dialeto?


O Português do Brasil é um dialeto?


Segundo Raphael Bluteau, autor do primeiro dicionário da Língua Portuguesa (1712), dialeto é o "modo de falar próprio e particular de uma língua nas diferentes regiões do mesmo reino: o que consiste no acento ou na pronunciação em certas palavras, no modo de declinar e conjugar".
A partir dessa antiga definição, o Português do Brasil ainda hoje é caracterizado pelos gramáticos como um dialeto brasileiro. A Língua Portuguesa que chegou ao Brasil em 1500 foi aos poucos se impondo e se espalhando pelo território. No século XVIII, deixou de acompanhar as mudanças que ocorriam na língua na metrópole. Além disso, sofreu as influências indígena e africana e, mais tarde, de outras línguas europeias, trazidas pelos imigrantes. Isso explica a existência de falares tão distintos como os do Nordeste ou do Sul, que não chegam a constituir um subdialeto. Pode-se dizer que o Brasil, apesar de seu imenso território, mantém uma admirável unidade linguística.


A Língua Portuguesa no Brasil

Até o fim do século XVII, apenas uma em três pessoas falava Português no Brasil. Apesar de seu prestígio, essa língua não conseguiu se impor de imediato à língua geral dos índios, o tupi. Isso se dava porque os portugueses que aqui chegavam casavam-se com índias e deixavam a elas a tarefa de ensinar o idioma aos filhos. Além disso, empenhados em catequizar os nativos, os jesuítas procuravam comunicar-se com eles em tupi, chegando a aprender sua língua e a escrever sua gramática. As bandeiras paulistas também foram um importante fator de propagação do tupi. Delas, sempre faziam parte intérpretes índios que tinham na língua geral, o abanheém (língua de gente), seu instrumento de comunicação. Por essa razão, mesmo as áreas não ocupadas pelos tupis ganharam nomes nessa língua. Depois de sucessivas ordens da metrópole para que se ensinasse a língua portuguesa aos índios e após a expulsão dos jesuítas do Brasil, o português foi se fortalecendo até se tornar nosso idioma oficial.

As línguas indígenas no Brasil

Estima-se entre 120 e 150 o número de línguas indígenas faladas hoje no Brasil. Durante o período colonial, a língua mais importante era o Tupi-guarani, que apresentava duas variantes – o Tupi antigo e o Tupinambá – faladas na região que ia do atual Estado de São Paulo ao Estado do Maranhão.


A herança tupi
O Português recebeu um grande número de palavras do Tupi:
• Flora: abacaxi, capim, cipó, ipê, jabuticaba, mandacaru, maracujá, pitanga; 
• Fauna: arara, capivara, cutia, jacaré, jiboia, lambari, sabiá, tamanduá, urubu; 
• Lugares (topônimos): Aracaju, Botucatu, Carapicuíba, Guaratinguetá, Guarujá, Guanabara, Itu, Tietê, Ubatuba; 
• Nomes de pessoas: Araci, Iracema, Jaci, Jurandir, Jurema, Maíra, Moema, Tami, Tainá, Ubiratã, Ubirajara.


De São Paulo, os bandeirantes e seus guias indígenas levaram o Tupi a grandes extensões do território

Diferenças entre o Português do Brasil e o de Portugal

Há muitas diferenças entre as línguas faladas no Brasil e em Portugal:

 Vocabulário: as diferenças devem-se principalmente à contribuição que nos deram as línguas indígenas e africanas. Além disso, muitas palavras de uso cotidiano em Portugal são desconhecidas ou raramente usadas no Brasil: 'montra (vitrine), peúgas (meias de homem), retrete (latrina), esquentador (aquecedor). 



 Fonética: as diferenças são profundas. De modo geral, a pronúncia em Portugal é mais rápida e seca: Al'manha (Alemanha), esp'rança (esperança), p'reira (pereira). Outras distinções: o hábito, em Portugal, de alongar certas vogais, transformando-as em ditongo – senhoire (senhor), fazeire (fazer) – ou de pronunciar como ai, o ditongo ei – baijo (beijo).



• Morfologia: as diferenças nesse caso são de:
- Formas verbais: como estou a fazer, ando a fazer (Portugal); estou fazendo (Brasil).
- Uso do sufixo -ito (a): rapazito, boquita (comum em Portugal). 

- Conjugação em 2ª pessoa (tu e vós) – no Brasil restrita a algumas regiões que, em geral, empregam o tu conjugando o verbo na 3ª pessoa: tu vai, tu foi. 



• Sintaxe: há muitas diferenças na linguagem coloquial entre o Português do Brasil e o de Portugal:

- Preferência pela próclise do pronome no Brasil: me disseram, te confesso. Em Portugal, prefere-se a ênclise: disseram-me, confesso-te, além de usar normalmente a mesóclise: dir-me-ia – raríssima entre nós, usada somente literariamente. 
- Uso de pronomes retos como objetos diretos: eu vi ele, esperei ela (comum no Brasil); eu o vi, esperei-o (em Portugal). 

- Uso da preposição em no Brasil, no lugar de a (usada em Portugal): cheguei em Parati, fui no cinema (o no substitui ao). 



• Semântica: nem sempre as palavras portuguesas têm aqui o mesmo significado. Às vezes ganham um sentido diferente, em outras mantêm o sentido abandonado em Portugal: moço = jovem (no Brasil) e empregado (em Portugal); comboio = série de carros (no Brasil), trem (Portugal).




A herança africana


Os africanos trazidos ao Brasil como escravos, entre os séculos XVI e XIX, pertenciam a diversas tribos, cada uma delas com costumes e línguas diferentes. Entre essas destacavam-se o nagô ou iorubá, falado principalmente na Bahia, e o quimbundo, falado na região norte do país, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais. As línguas africanas também influenciaram o Português do Brasil, nomeando:

• Divindades e rituais: Iansã, Iemanjá, orixá, candomblé, Zumbi. 

• Danças e músicas: batuque, maracatu, samba, agogô, berimbau.
• Alimentos e bebidas: acarajé, angu, vatapá, cachaça, inhame, maxixe, quiabo.
• Escravidão: senzala, mocambo, quilombo, mucama. 

Além disso, muitos adjetivos e verbos do português têm suas origens nas línguas africanas: banguela, caçula, macambúzio, batucar, cochilar, xingar. 


Fonte: usinadasletras.com.br

Origem da Língua Portuguesa


Como se originou a Língua Portuguesa?

Língua Portuguesa tem sua origem no latim vulgar, modalidade falada do latim que os romanos levaram para a Lusitânia, região situada a Oeste da Península Ibérica (correspondente a atual Portugal e à região espanhola da Galícia). A Península Ibérica, devido à sua posição geográfica, foi constantemente invadida e colonizada por diversos povos que falavam línguas diferentes: lígures, tartéssios, fenícios, gregos, bascos, iberos e celtas. 

Por volta do ano 218 a.C., chegaram os romanos, que, depois de conquistar esses povos, conseguiram a unificação linguística. Pelo fato de o latim ser uma língua mais organizada e o meio de comunicação de uma cultura mais adiantada, ele foi aos poucos se impondo em toda a península, substituindo as demais línguas, com exceção do basco. De todas as línguas pré-românicas, subsistem algumas palavras que passaram ao Português, como barro, bezerro, cabana, cerveja, mapa.


A origem latina


Latim clássico e latim vulgar

No latim distinguem-se duas variantes:

• Latim clássico ou culto: uniforme e regulamentado, era estudado nas escolas, falado e escrito pela minoria culta.

 Latim vulgar: era a língua falada pelos comerciantes, colonos e soldados que mantinham a ordem no Império. Essa variante não respeitava, pelo desconhecimento de seus usuários, as normas gramaticais, mantinha os vícios das línguas orais e incorporava palavras das outras línguas com as quais entrava em contato. 

Principais diferenças entre latim clássico e vulgar
O clássico tinha dez vogais (cinco breves e cinco longas). O vulgar tinha só sete:a, e (abertas e fechadas), i, o (aberta e fechada) e u; 
O latim vulgar tinha a tendência de exprimir com várias palavras o que o latim clássico conseguia com uma só (tempos verbais, complementos, comparativos e superlativos); 
• No vulgar foi se perdendo o sistema de flexões que indicava as funções que as palavras tinham na oração (declinação);
• O vulgar expressava a voz passiva do verbo por meio do verbo auxiliar e dos particípios. O clássico o fazia por uma desinência especial.


A Península Ibérica antes da romanização

Pouco se sabe sobre a Península Ibérica antes da chegada dos romanos. Supõe-se que, primitivamente, ela tenha sido habitada por dois povos: o cântabro-pirenaico e o mediterrâneo, dos quais se teriam originado o povo basco e o ibérico. Ao Sul da península, estabeleceram-se os tartéssios, fundadores da cidade de Tarsis, aonde, segundo a Bíblia, Salomão ia buscar ouro, prata e marfim. Essas riquezas atraíram outros povos: os fenícios, que dominaram o Sul, fundando as cidades de Cádiz, Málaga e outras, e os gregos, que derrotados pelos fenícios no Sul foram para o Leste, fundando a cidade de Alicante, entre outras. Os lígures provavelmente se estabeleceram no Norte.

Celtas e romanos


Por volta do século V a.C. chegaram os celtas, que se fixaram na Galícia e no centro de Portugal. No século III a.C., para defender seu poderio no Mediterrâneo ameaçado por Cartago, os romanos desembarcaram pela primeira vez na península. Em 25 a.C. toda a faixa ocidental da península já estava conquistada e os peninsulares, com exceção dos bascos, adotaram a língua e os costumes dos vencedores, ou seja, romanizaram-se.

Processo de romanização


Esse processo não aconteceu da mesma maneira nem ao mesmo tempo em todas as regiões da Península Ibérica. No Norte, onde o processo de romanização foi menor, o latim evoluiu de uma maneira mais livre e revolucionária. Embora na Península também tenham existido escolas em que estudaram imperadores, poetas e filósofos – como Trajano, Adriano, Sêneca, Marcial –, o latim que se impôs foi o vulgar. O latim vulgar foi se diferenciando do clássico. Portanto, as línguas românicas da Península são fruto da evolução do latim vulgar em contato com elementos pré-românicos e outras influências de povos que chegaram mais tarde.

A influência de outros povos


Depois da queda do Império Romano, muitos povos bárbaros chegaram à península. Os suevos, vândalos e visigodos, que chegaram entre 568 e 586, fizeram da cidade de Toledo a sua capital. Apesar de deterem o poder, adotaram a língua falada pelos derrotados, um latim vulgar muito evoluído. Em troca deixaram palavras de sua língua original usadas até hoje.

Povos germânicos 


Os povos germânicos deixaram um léxico numeroso (germanismos) relacionado com a guerra e os costumes:

Guerra, elmo, roca, arauto, trégua

Eles deixaram também topônimos e antropônimos:



Afonso, Elvira, Raimundo, Rodrigo, Resende



No ano 711, os árabes invadiram a península. Derrotaram os visigodos e praticamente dominaram todo o território em sete anos. As tropas cristãs reagruparam-se no Norte da península e iniciaram a Reconquista, que culminou em 1492 com a tomada de Granada pelos Reis Católicos. Durante esses sete séculos aconteceram as grandes evoluções linguísticas do latim na península e apareceram os dialetos romances: o galaico-português, o astur-leonês, o castelhano, o navarro-aragonês e o catalão, além do moçárabe, língua falada pelos cristãos habitantes da Espanha árabe.


Árabes 


O árabe teve importante influência no Português, contribuindo principalmente com palavras que designam plantas, utensílios, alimentos, além de verbos e topônimos:



Algodão, alface, alaúde, tambor, azeitona, álcool, xarope, alcatifar, alcovitar, Alcântara, Gibraltar


Enriquecimento da Língua Portuguesa

Nos séculos XII e XIII, com a chegada da arte provençal, cultivada até pelo próprio rei D. Dinis, muitas palavras de origem provençal incorporaram-se ao léxico português:


Alegre, jogral, rouxinol, trovar


Com a expansão ultramarina, a Língua Portuguesa entrou em contato direto com outras línguas que acrescentaram ao idioma inúmeras palavras da África, Ásia e América. Alguns exemplos:


• Cáfila (do árabe falado no norte da África);

• Nanquim (do chinês);

• Gueixa, samurai (do japonês);

• Gengibre, sândalo (do sânscrito);

• Berinjela, caravana, laranja, turbante (do persa);

• Capim, cipó, abacaxi (do tupi).

Durante o período em que Portugal foi governado pela Espanha (1580 a 1640), o castelhano também influenciou a Língua Portuguesa, com palavras como:

Bobo, galhofa, lagartixa, pirueta, realejo

A partir do século XVI, quando surgem as primeiras gramáticas, a Língua Portuguesa, então mais definida, sofreu influências menores. Mesmo assim, ao longo dos anos foi incorporando vocábulos de diversos idiomas:


• Tricô, abajur (do francês);

• Cantina, macarrão, salame (do italiano);

• Vodca, estepe (do russo);

• Lanche, pudim, sanduíche (do inglês).

A partir do século XIX, o Português recebe termos que designam avanços tecnológicos:


• Telefone, televisão, submarino, cosmonauta (greco-latina);

• Futebol, revólver, iate, computador (inglês);

• Show, best seller, short, software, hardware (do Inglês, ainda sem grafia em Português).


Fonte: http://www.grupoescolar.com